Vulnerabilidade no universo jurídico: é preciso demonstrar perfeição?

12 DE ABRIL DE 2021 JULIANA IZA TAVARES 

Quando pedimos a alguém para descrever um profissional do direito, geralmente a resposta abordará as seguintes características: uma pessoa séria, culta, que não demonstra a sua vulnerabilidade. Ou seja, para muitos, ser advogado (a) ou juiz (a) significa ser um super homem, ou uma mulher maravilha. É ter um linguajar difícil de entender. É escrever de maneira culta e com palavras desconhecidas.

Essas crenças sobre o universo jurídico assustam àquele que busca ingressar na carreira. Sobre o assunto, posso falar com domínio, haja vista a imensa insegurança que senti ao iniciar a minha graduação. Tímida, introvertida, com 16 anos de idade. Parecia que muitas das minhas características não eram esperadas para uma futura advogada. Porém, algo foi mais forte que isso: minha paixão pelo direito.

Por esses motivos, tentei modificar meu jeito, mas sem sucesso. Quando me abri para ser quem realmente sou, todas as características, antes tão temidas por mim, se tornaram algo normal, até mesmo para uma profissional jurídica.

Caso você também esteja passando por questionamentos internos - ou até mesmo externos - sobre ‘’o direito é mesmo para mim?’’, peço que, em primeiro lugar, você abra a sua mente para o imenso número de personalidades que existem entre as pessoas que laboram com o direito. Existem pessoas mais sérias e pessoas mais divertidas. Advogados com linguagem mais culta, e outros que possuem uma fala de simples entendimento. Em todas as profissões, existem vários seres humanos com jeito de ser distintos.

Caso você goste do que faz, não será a sua personalidade que te impedirá de crescer. Ser vulnerável, na realidade, vai te auxiliar a superar cada etapa profissional.

A escritora Brené Brown, em seu livro ‘’A coragem de ser imperfeito’’, leciona sobre a importância da vulnerabilidade para todas as pessoas. Expressar a sua vulnerabilidade não é sofrer com o problema do outro. É estar aberto a entender o outro e a você mesmo. É saber que, para crescer, inclusive em sua profissão, é essencial estar aberto a cair e levantar diversas vezes, e a enfrentar o novo, aprender com ele, mesmo sendo difícil.

Fonte: Tenor

Quanto antes aprendermos sobre a importância de demonstrar a sua humanidade, principalmente durante a graduação jurídica, mais fácil será lutar pelos nossos objetivos. Muitos estudantes de direito, quando não atingem esse ideal de pessoa inalcançável e, muitas vezes, incompreensível em seus atos e falas, se sentem frustrados, ao invés de sentir alívio.

Não é estranho esse sentimento, a julgar que, para ser você mesmo, é preciso de ainda mais coragem. Conforme perfeitamente expõe Brené Brown, ‘’é preciso coragem para ser imperfeito. Aceitar e abraçar as nossas fraquezas e amá-las. E deixar de lado a imagem da pessoa que devia ser, para aceitar a pessoa que realmente sou.’’

Nesta linha, em razão do ideal criado para a área jurídica, o mundo atual se encontra repleto de operadores do direito com depressão. Giovani Ravagnani, em seu artigo ‘’A advocacia está em depressão, toma ansiolíticos e ninguém está nem aí’’, inicia seu texto com a seguinte introdução: ‘’A depressão e demais problemas psiquiátricos se tornaram uma epidemia na advocacia. No mundo do direito, difícil é não conhecer alguém que esteja sofrendo com problemas de ansiedade, depressão, bipolaridade, burnout etc..’’.

Concluo com uma reflexão para todos nós. Para atuar na área jurídica, não é preciso demonstrar perfeição - seja a ideia de perfeição que você possua -, mas é preciso de estudos e de dedicação. Focar em aprender acima de qualquer nota ou aplauso. É preciso agir com humildade, honestidade e profissionalismo. Para isso, é preciso estar vulnerável. É preciso coragem para crescer. Para crescer, é preciso estar aberto para errar e aprender. Seja corajoso, seja vulnerável. Seja você.