E a saúde mental do proletário em meio à pandemia?

26 DE OUTUBRO DE 2020 POR MATHEUS MACENA

Você Não Estava Aqui

No último fim de semana (17/10) assisti ao filme “Você Não Estava Aqui”, do diretor inglês Ken Loach. O longa narra a trajetória de uma família se recuperando da crise econômica de 2008. Ricky começa a trabalhar como motorista-entregador, sem qualquer vínculo empregatício ou direito trabalhista, enquanto sua esposa Abbie trabalha autonomamente como cuidadora de idosos. O filme narra toda as dificuldades da família em lidar com estresse no trabalho, acúmulo de dívidas e falta de perspectivas. Enquanto assistia eu só conseguia pensar “Isso só tende a piorar depois da pandemia”.

Fonte: Pyxis

No mesmo barco?

Pois bem! No início da pandemia do novo Coronavirus estávamos rodeados de textos falando sobre solidariedade e que estamos todos “no mesmo barco”, como se a desigualdade social não fosse um agravante seríssimo dentro do contexto pandêmico. Mais de sete meses se passaram e vimos que definitivamente não estávamos no mesmo barco. A população mais pobre foi a mais atingida não só pela COVID-19 como também pelos efeitos socioeconômicos gerados ao longo da pandemia.

Aqui no Brasil vimos 42 bilionários aumentarem suas fortunas em US$ 34 bilhões.  No âmbito internacional, vimos Jeff Bezos (dono da Amazon) chegar aos US$ 200 bilhões de fortuna. Para ilustrar: se você receber 1 milhão por mês pelos próximos 80 anos não chegará sequer em US$ 1 bilhão. Ao mesmo tempo vemos o número de desempregados subindo assombrosamente e pouco esforço do governo para socorrer micro e pequenas empresas. Estima-se que o padrão de vida dos brasileiros sofrerá um retrocesso de 10 a 20 anos. Pois bem, o dinheiro da base da pirâmide não está evaporando, está indo para algum lugar que é a parte de cima.

Fonte: freepik

Saúde mental

Diante dessas problemáticas, cabe pensar aqui na saúde mental da população proletária que tem sofrido psiquicamente com os maiores efeitos da pandemia: o falecimento de pessoas próximas devido à COVID-19, e a perda de recursos financeiros para suprir suas necessidades básicas. Nesse segundo ponto, sempre volta a urgência de desmistificar a falácia de que qualidade de vida e dinheiro não se relacionam. Veja bem! Não digo que quanto mais dinheiro melhor você vive, isso vai de encontro ao que mencionei sobre acúmulo de riquezas. Mas que em nosso sistema ter dinheiro é necessário para que se tenha o básico para se viver.

Com a concentração de renda aumentando cada vez mais dentre uma pequena parcela de pessoas, o agravo psicológico para as pessoas mais pobres é inevitável. O proletário, diante do desemprego ou de vínculos informais sem garantia de direitos, tende a ter maiores níveis de estresse e ansiedade, oscilações de humor, e baixa autoestima e qualidade de vida. A atenção para esse problema é urgente, tanto para a formulação de políticas públicas, bem como para o enfrentamento à desigualdade social, que tem crescido exponencialmente.

Fonte: freepik

Sobre o autor Matheus Macena

Matheus Macena é baiano-sergipano, psicólogo, aspirante a Gestalt-terapeuta, mestrando em Psicologia do Desenvolvimento na UnB, acha que é marxista mas não tem certeza. Ele ama falar sobre filmes, é reclamão sem reclamar de nada e também o ser humano mais tagarela do planeta. Escorpiano, mas chora assistindo Titanic até hoje.

* Porque acredito na proposta do curso e quero contribuir com meus escritos. Conhecimentos e informações devem ser sempre partilhados!