Combate ao suicídio: a hipocrisia institucional frente a classe LGBTQIA+

 23 DE SETEMBRO DE 2021 POR EDUARDO ARAGÃO

Fala galera, tudo em ordem? Espero que sim. Nesse mês de setembro, estamos vivenciando mais uma vez o famoso “setembro amarelo”, mês este que promovemos a conscientização para o combate ao suicídio. Mas vocês já pararam para pensar como essa campanha surgiu?

O setembro amarelo surgiu nos EUA, quando um jovem, de 17 anos, cometeu suicídio, em 1994. O jovem Mike Emme, era muito habilidoso e inteligente, restaurou completamente um Mustang e o pintou amarelo, o que tornou conhecida a cor da campanha que no futuro viera a ser originada.

Por ser um rapaz vívido e astuto, seus pais e amigos infelizmente não perceberam que o jovem tinha sérios problemas psicológicos e não conseguiram evitar sua morte. Devido a comoção publica por esta perda, os familiares e amigos do jovem, assim como a população local, deram luz a campanha e promoveram o combate ao suicídio até os dias atuais.

Vamos contextualizar com a realidade brasileira, população essa, em grande parte, ignorante, machista, sexista, homofóbica, transfóbica, racista, em suma, preconceituosa. Vocês já pararam para pensar no montante de jovens que confrontam a si mesmos sobre a própria sexualidade e identidade, muitas vezes por ignorância, outras vezes por medo, ondes muitos destes se veem em um beco sem saída e sem alternativas a serem optadas, nem mesmo o colo da própria família. 

Já pararam para pensar quais as alternativas desses jovens?

No ano de 2019, segundo o Grupo Gay da Bahia (2020) foram registradas 32 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ no Brasil e foram tipificadas como suicídio. Apesar do trabalho fundamental e de riquíssimo rigor metodológico realizado pelo Grupo, a carência de dados sobre a população LGBTQIA+ nos permite afirmar que, na realidade, esses números são significativamente maiores e essa situação é ainda mais preocupante. Destaca-se também que dados coletados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) já indicam que o número de assassinatos de transexuais e travestis no Brasil até 31 de agosto já é maior do que o total do ano anterior inteiro, mesmo com a vigência de uma quarentena no país. Assim, é possível que, após dois anos de redução do número de mortes violentas de LGBTQIA+ no Brasil, tenhamos um aumento em 2020 dessas mortes, incluindo aquelas tipificadas como suicídio. 


 

A falta de acolhimento familiar, pressão excessiva por resultados no trabalho ou até mesmo a falta deste, desilusões amorosas por viver infimamente a realidade de uma sociedade cheia de preconceitos, a falta de informação necessária sobre a própria identidade devido ao despreparo da sociedade brasileira, entre esses, diversos outros motivos que levam os nossos jovens a cometerem atentados sobre a própria vida.

Chega a ser cômica a forma como o Brasil, vulgo campanhas produzidas por grandes marcas por exemplo, camuflam todas as posturas discriminatórias praticadas contra grupos minoritários durante todo o ano e em períodos convenientes como o dia do orgulho LGBTQIA+, orgulho Trans, até mesmo o setembro amarelo, utilizando fantasias e vendas midiáticas, de maneira hipócrita, para enaltecer as campanhas em prol da comunidade e velar todos os atos atentatórios outrora praticados.

É necessário salientar, que a grande parcela de suicídios na comunidade LGBTQIA+ são praticados durante a adolescência e muitas vezes no âmbito escolar, por todos esses motivos supracitados, além da falta de apoio profissional e pessoal necessário. Podemos elucidar um dispositivo sucinto e bem objetivo quanto ao seu teor, senão o art. 196 da nossa CF/88, in verbis:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

É notório que a pratica do suicídio é corriqueira dentro da comunidade LGBTQIA+ e se torna ainda mais gritante, a falta de politicas publicas que visem garantir a preservação da vida por nossos jovens da comunidade, seja por meio de uma maior acessibilidade a profissionais da psicologia, uma possível implementação do acompanhamento psicológico no ensino básico nas escolas, entre outras formas de evidenciar qualquer tipo de transtorno psicopatológico, possibilitando a tomada de medidas cabíveis para evitar mais uma perda.

Não falamos somente do apoio profissional. Um abraço, uma palavra, um colo amigo e até mesmo 30 minutos do seu tempo para ouvir alguém, pode salvar uma vida.